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segunda-feira, 22 de abril de 2024

Esta é a madrugada que eu esperava



Fotos: google


Esta é a madrugada que eu esperava

O dia inicial inteiro e limpo

Onde emergimos da noite e do silêncio

E livres habitamos a substância do tempo

Sophia de Mello Breyner Andresen, O Nome das Coisas, 1974

 

domingo, 7 de abril de 2024

"Março" é o poema escrito por Alice Neto de Sousa para as comemorações dos 50 anos do 25 de abril


O poema foi incluído na cápsula do tempo, feita em cortiça, e que irá ser aberta no centenário da revolução, em 2074.


segunda-feira, 25 de março de 2024

Se eu definisse o tempo como um rio

 

                                              Foto: Google


Se eu definisse o tempo como um rio,

a comparação levar-me-ia a tirar-te

de dentro da sua água, e a inventar-te

uma casa. Poria uma escada encostada

à parede, e sentar-te-ias num dos seus

degraus, lendo o livro da vida. Dir-te-ia:

«Não te apresses: também a água deste

rio é vagarosa, como o tempo que os

teus dedos suspendem, antes de virar

cada página.» Passam as nuvens no céu;

nascem e morrem as flores do campo;

partem e regressam as aves; e tu lês

o livro, como se o tempo tivesse parado,

e o rio não corresse pelos teus olhos.


Nuno Júdice

sábado, 16 de março de 2024

"As disjunções perfeitas"


                                            Foto: Disjunção espacial- Maria Lynch


"As disjunções perfeitas"

O homem que dizem na minha rua

ter ligeira disfunção mental

disse-me hoje de manhã «bom dia»,

com um sorriso rasgado de malmequer,

ou de papoila fresca, ou plátano fresco

(ou qualquer coisa bela do mundo vegetal)

 

E, como eu comentava sobre o dia

(azul de primavera), acrescentou:

«Deus é assim. É pródigo,»

 

ah! infinito tudo, admirável mundo

que, enfim,

de lado a lado se ilumina:

de som, de fino pólen, de tão puro

neurónio

em disjunção divina

 

Ana Luísa Amaral (2022:p.245), O Olhar Diagonal das Coisas.


quarta-feira, 6 de março de 2024

Deus na escuridão


                                              Foto: Google



Deus na escuridão

 

As mães libertam seus filhos e depois vão ficando para trás, à distância, numa distância que parece significar que não são mais precisas e passarão todo tempo de coração pequeno à espera, espiando todos os sinais que lhe anunciem a presença, o regresso dos filhos.

Irão buscá-los eternamente.

Sabem amar acima de qualquer defeito, de qualquer falha, com cada vez mais saudades.

As lembranças dos filhos são sempre nascentes e não haverão jamais de terminar.

Este amor é sempre um sentimento que se exerce na escuridão.

 

Deus na EscuridãoValter Hugo Mãe – Porto Editora


terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Ampliar o olhar


                                                    Foto: Google


Ampliar o olhar

Vivemos dobrados sobre o restrito, aprisionados a um quotidiano utilitarista e estreito em que a vida perde a sua respiração.

Há uma leveza que precisamos aprender:

Uma transparência que dilata a alma e nos mantém ligados à chama pequenina da esperança

 

O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas  - José  Tolentino de Mendonça


quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Só o silencio é liso


                                              Foto: Google


Só o silencio é liso

Por aqui a escrita é um sol encoberto

alguns resíduos de luz dispersos ao acaso

 

os pássaros nas linhas do esquecimento

perdem-se do canto na mão que escreve

 

vocábulos de orvalho em lago de limos.

São peixes escorregadios 

que não deixam de se debater

 

em tempo de guerra toda a palavra é curva

só o silêncio é liso 

e grita.

 

 

Lídia Borges - blog Seara de versos