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terça-feira, 12 de agosto de 2025

Ensaio sobre a cegueira

                                                 Foto: Google



 “Ensaio sobre a Cegueira”: 30 anos de uma metáfora da condição humana.

O romancista não propunha uma história sobre a perda da visão física, mas sim uma reflexão sobre a cegueira moral, ética e social que se instala quando desaparecem as estruturas que sustentam a convivência humana.

Três décadas depois, a cegueira coletiva que Saramago denunciava parece mais atual do que nunca. Vivemos tempos de desinformação, polarização e crises sucessivas — e a literatura, como ele próprio dizia, continua a ser uma forma de ver melhor.

 

“A paz é possível, se nos mobilizarmos por ela. Nas consciências e nas ruas", escreveu José Saramago.

 

Este artigo propõe-se, por isso, a olhar para trás com olhos de ver: para o livro, para os prémios e para o legado de um autor que nunca escreveu para agradar, mas sempre para despertar.

 

Ivonia Nahak – “ Ensaio sobre a cegueira”: 30 anos de uma metáfora da condição humana- “Sapo” 12 de agosto 2025.

segunda-feira, 21 de julho de 2025

Em eterna construção

 



                                                  Foto: Google ( Kandinsky)


Em eterna construção

Traça a reta e a curva,

a quebrada e a sinuosa

Tudo é preciso.

De tudo viverás.

Cuida com exatidão da perpendicular

e das paralelas perfeitas.

Com apurado rigor.

Sem esquadro, sem nível, sem fio de prumo,

traçarás perspetivas, projetarás estruturas.

Número, ritmo, distância, dimensão.

Tens os teus olhos, o teu pulso, a tua memória.

Construirás os labirintos impermanentes

que sucessivamente habitarás.


Todos os dias estarás refazendo o teu desenho.

Não te fatigues logo. Tens trabalho para toda a vida.

E nem para o teu sepulcro terás a medida certa.

Somos sempre um pouco menos do que pensávamos.

Raramente, um pouco mais.

 

Cecília Meireles (1901 – 1964)

 

A imagem terá vários tipos de linhas e curvas, porque a vida é múltipla e suas circunstâncias são transitórias, nada é realmente permanente. Não devemos pensar em nós mesmos como desenhos estáticos, mas como figuras que vão se alterando com o tempo, estando em eterna construção.


sábado, 12 de julho de 2025

O silêncio que perdemos


                                               Foto: Google


O silêncio que perdemos

 

O crescimento das cidades, o aumento do ruído provocado pelas máquinas e a maior densidade populacional contribuíram para que o silêncio se tornasse mais difícil de alcançar e, por isso, mais valorizado em determinados ambientes.

Atualmente, é difícil ficar em silêncio. A sociedade insta à submissão ao ruído a fim de se tornar parte do todo, em vez de se manter à escuta de si mesmo.

Alain Corbin convida-nos a redescobrir o silêncio — não como ausência de ruído, mas como um espaço de calma, reflexão e presença.

O silêncio não é apenas ausência de ruído. Nós quase o esquecemos. As referências auditivas desnaturaram-se, enfraqueceram, dessacralizaram-se. Intensificaram-se o medo ou mesmo o terror suscitados pelo silêncio.

No passado, os ocidentais desfrutavam a profundidade e o sabor do silêncio. Consideravam-no como condição do recolhimento, da escuta de si mesmo, da meditação, da oração, do devaneio, da criação; sobretudo como lugar íntimo do qual a palavra emerge. Especificavam as suas táticas sociais. A pintura era para eles palavra de silêncio.

A intimidade dos lugares, a do quarto e dos seus objetos, como a da casa, era atravessada pelo silêncio.

Os silêncios da natureza, certos sons, fazem ressoar o silêncio e conferem, ao mesmo tempo, profundidade ao espaço.

Todos os ruídos que se elevam na vastidão do campo, chegam ao ouvido graças a esse silêncio: são cânticos de trabalho, vozes de crianças, pios e refrãos de animais e de tempos a tempos um cão que ladra (…) Fez-se um grande silêncio e ouço como que as vozes de mil lembranças suaves e tocantes, que se elevam no passado longínquo e vêm sussurrar aos meus ouvidos.

Quando passeia pelos bosques ou no campo, sente que o som é quase idêntico ao silêncio. As coisas da natureza estão cheias de silêncio.

A evocação do silêncio passado, das modalidades da sua busca, das suas texturas, das suas disciplinas, das suas táticas, da sua riqueza e da força da sua palavra pode contribuir para reaprender a estar em silêncio, ou seja, a sermos nós mesmos.

 

Alain Corbin - História do Silêncio


terça-feira, 1 de julho de 2025

A vida é um caminho de sombras e luzes


                                              Foto: Google


A vida é um caminho de sombras e luzes.

O importante é que se saiba vitalizar as sombras e

Aproveitar a luz.

 

Henri Bergson


sábado, 31 de maio de 2025

Sei que seria possível construir o mundo justo


                                                    Foto: Google


A Forma Justa

Sei que seria possível construir o mundo justo

As cidades poderiam ser claras e lavadas

Pelo canto dos espaços e das fontes

O céu o mar e a terra estão prontos

A saciar a nossa fome do terrestre

A terra onde estamos — se ninguém atraiçoasse — proporia

Cada dia a cada um a liberdade e o reino

— Na concha na flor no homem e no fruto

Se nada adoecer a própria forma é justa

E no todo se integra como palavra em verso

Sei que seria possível construir a forma justa

De uma cidade humana que fosse

Fiel à perfeição do universo


Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco

E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo


Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"


terça-feira, 20 de maio de 2025

Primavera é vida


                                             Foto: Google


Primavera é vida

 que veste as árvores com poemas em forma de flor

 e anda por dentro dos dias a acordar os pássaros."

 

FERNANDA BOTELHO, escritora e tradutora portuguesa (1926-2007)


quarta-feira, 7 de maio de 2025

As fronteiras de onde não queremos nunca sair


                                              Foto: Google


O que trazemos nas malas não é apenas o que necessitamos.

São as paredes da nossa fortaleza, as fronteiras de onde não queremos  nunca sair.

 

 

Mia Couto – A Cegueira do rio